segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Silence and The Eyes of Asia: As palavras e a sua ausência

 


O filme “Silêncio” de Martin Scorcese surgiu como uma adaptação do romance homónimo de Suzako Endo, ainda que não siga a linha narrativa frase a frase, a dimensão episódica do romance mantém-se intacta. Ora, esta afirmação foi recolhida das palavras de João Mário Grilo, cujo filme “Os olhos da Ásia” integrou um ciclo da Cinemateca na sexta-feira 17 de Março de 2017, e que concluiu num debate entre o mesmo e membros da plateia.

 

Ora, “Os olhos da Ásia” apresenta elementos em comum com o romance de Endo, apesar de a sua narrativa ser distinta do mesmo e, por sua vez, o “Silêncio” de Martin Scorcese procura adaptar fielmente o texto do mesmo, ainda que com distinções que são fruto da passagem de um romance para um filme.

 

Ambos filmes focam a apostasia do padre jesuíta Cristóvão Ferreira e os seus efeitos nos missionários e na sua ordem. No caso do “Silêncio” de Scorcese, a relação entre os padres jesuítas e os cristãos japoneses é central para o desenvolvimento da narrativa, ao passo que nos “Olhos da Ásia” a relação entre os jesuítas, japoneses e portugueses, dita o passo da narrativa tanto no período das perseguições aos católicos como no presente em que a história é vista por uma representante da Comissão Europeia sob a forma de como Nagasaki encara actualmente a situação, quer pelo ponto de vista oficial dos funcionários administrativos da região quer pelo ponto de vista de um padre espanhol que gere um museu dedicado à memória dos acontecimentos.

 

Com efeito, trata-se de duas narrativas distintas sobre um mesmo acontecimento e a forma como o enfoque nas palavras, sejam divinas, sejam dos homens, varia. O silêncio de uma resposta divina face às provações dos católicos durante as perseguições, e o som das palavras de quem rejeita a sua fé, independentemente dos seus motivos: “São só palavras Julião”, afirma Cristóvão Ferreira no final do filme de João Mário Grilo; em contraste com o silêncio da cremação do jesuíta apóstata que conserva junto de si um crucifixo, no filme de Scorcese.

 

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